segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Apac em Florianópolis 

A primeira Apac foi criada há 45 anos em São José dos Campos (SP), pelo advogado e jornalista Mario Otoboni e um grupo de voluntários cristãos. Desde então, as unidades se espalharam por sete Estados brasileiros. Em março, uma nova associação abre em Florianópolis, a centésima do mundo, e sua idealizadora e futura presidente, Leila Pivatto, 67 anos, mostra seu entusiasmo: “Quando condenados, e vale lembrar que 40% dos 600 mil encarcerados no Brasil não são, os presos deveriam perder o direito de ir e vir. Apenas. Mas eles perdem tudo. O contato com as famílias, os direitos à saúde, educação, trabalho e assistência jurídica. Nós entendemos que para matar o criminoso e salvar o homem é preciso cidadania".

Leila, voluntária há dez anos da Pastoral Carcerária que trabalha 12 horas por dia sem ganhar nenhum centavo, e seus colegas pelo país não são os únicos a apostar no modelo. A proposta ganhou a atenção da presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia: “As Apacs são a minha aposta. Elas têm dado certo. Basta dizer que a reincidência é de 5%, enquanto nos presídios comuns é de até 75%”, disse a ministra em entrevista ao Programa Roda Viva, da TV Cultura, em outubro do ano passado.


Oposta às cadeias comuns no cerne, talvez a diferença maior das Apacs seja sua concepção de defesa da justiça restaurativa, não da punitiva. Elas não podem ser criadas pelos governos, só pela organização e boa vontade da sociedade civil, esse é um dos principais obstáculos para expansão do modelo em larga escala.

"Não há solução imediata para as prisões. Todo processo será lento e exigirá consciência da população. Eu acredito que as Apacs sozinhas não irão resolver. É preciso estimular o desencarceramento. Há gente presa por bobagens. A minoria da massa prisional é perigosa, os outros poderia cumprir penas alternativas. E, obviamente, é preciso gerar oportunidade. Antes construirmos escolas do que prisões", disse Leila.

No caso da unidade de Florianópolis foram seis anos da primeira assembleia até a construção do prédio. O primeiro passo foi a audiência pública na comarca, em seguida a criação jurídica, que não visa nenhum lucro, e visitas à Apac de Itaúna, em Minas Gerais, que existe há 17 anos e é celebrada pela sua excelência - lá fugas são raras: a última demorou dez anos para acontecer.

A primeira Apac de Santa Catarina ficará no Complexo da Agronômica, em Florianópolis, onde cinco unidades já detêm quase 1,6 mil pessoas. A Apac será a sexta. A única semelhança com os vizinhos de muro é o terreno. A casa ampla e solar não foi criada para punir. Ao invés de agentes do Deap (Departamento de Administração Prisional), a organização será responsabilidade dos voluntários, não só da Igreja Católica, mas de diversas áreas. São advogados, médicos, dentistas, psicólogos, professores de música e yoga, confeiteiros, gente que acredita que para resolver a violência das ruas é preciso mudar a realidade do cárcere.

"Aqui os presos usarão suas roupas, serão chamados pelos seus nomes ou como recuperandos. E no lugar da solitária poderão resgatar seu equilíbrio na capela, se quiserem”, diz Leila, enquanto trabalha na finalização do edifício.

A rotina será rígida. São os presos que serão os responsáveis pela segurança e pela limpeza. Às seis da manhã eles levantam, arrumam suas camas (sim, eles têm camas), fazem as orações, tomam café e iniciam as tarefas do dia, que só termina às 22h. É requisito básico que todos trabalhem e estudem. Ao longo desse período também participam de palestras de valorização humana, oficinas, atos religiosos, lazer e descanso.

"As pessoas sempre nos perguntam se é o voluntariado que reduz o preço das Apacs. Digo que sim. Também não há gastos com agentes penitenciários e terceirizações de serviços. Utilizamos a mão de obra dos recuperandos. Mas não podemos esquecer uma questão central. Não há corrupção. O valor pago pelos presos comuns no Brasil é muito questionável. Se eles não recebem assistência jurídica, médica, alimentação adequada para onde vai tanto dinheiro?", questiona Valdecir Antônio Ferreira, presidente da FEBAC (Federação das Apacs do Brasil).

Trechos de reportagem publicada no site do jornal espanhol El País, de autoria de Aline Torres.

Leia a matéria completa:
http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/23/politica/1485198858_731977.html

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017



Coordenador da Pastoral Carcerária, morre 
padre Ney Brasil Pereira morre aos 86 anos

Conhecido por lutar pela mudança do hino de Santa Catarina, ele regia há mais de 40 anos o coral da Catedral Metropolitana e também acompanhava a pastoral carcerária da Capital


O padre Ney Brasil Pereira, conhecido especialmente pela sua regência do Coral Santa Cecília, da Catedral de Florianópolis, há mais de 40 anos e atuação na pastoral carcerária da Capital, morreu na manhã desta quarta-feira (4), às 8h27, no Hospital de Caridade, em Florianópolis. 
O velório será realizado na Catedral Metropolitana e no período da tarde, às 16h, acontecerá uma missa de corpo presente. Logo após a missa o padre será enterrado no cemitério Jardim da Paz.

Segundo o padre Leandro José Rech, da arquidiocese de Florianópolis, estava internado há 20 dias se recuperando de uma cirurgia de desobstrução intestinal que provocou complicações no seu estado de saúde. A situação se agravou nos últimos dias. A causa da morte ainda não foi informada, familiares e outros padres que acompanhava Ney ainda aguradam o laudo médico.
Ele tinha 86 anos, nasceu em 4 de dezembro de 1930 e foi ordenado padre em 25 de fevereiro de 1956. Este ano, o padre comemorou o jubileu de diamante, refrente aos 60 anos de sacerdócio. Em entrevista ao ND, ele contou sua trajetória de vida e sobre a proposta de novo hino para o Estado. Desde 1992 ele defendia a mudança do hino de Santa Catarina afirmando que a música não remete ao Estado. 

Biografia 
O padre Ney Brasil Pereira nasceu no dia 04 de dezembro de 1930, em São Francisco do Sul, no litoral Norte de Santa Catarina. Eela era o quarto, dos seis filhos de Antonio Pedro Pereira e Maria Tavares Silveira Pereira. Mudou-se para Florianópolis aos oito anos de idade.
Ainda na adolescência, o padre se tornou fluente em latim, grego e francês. Foi durante o colegial – que hoje equivale ao ensino médio – que o padre aprendeu esses idiomas e recebeu noções de inglês, italiano e alemão, já no seminário.
Conhecido pelo domínio da interpretação minuciosa da Bíblia, padre Ney foi o único brasileiro na Pontifícia Comissão Bíblica, um grupo de 20 especialistas do mundo que se dedica ao estudo da Bíblia. A nomeação para a Comissão ocorreu em 2001. Ele pesquisou o tema “Bíblia e Moral”, proposto pelo então cardeal Josepf Ratzinger – hoje Papa emérito Bento XVI.

Fez o mestrado em Teologia em Roma. No início dos anos 60, conseguiu uma bolsa para estudar música nos Estados Unidos. Dez anos mais tarde fez mestrado em Exegese, em Roma, e em 1973 retornou para Florianópolis.

Histórico na igreja

– Foi ordenado diácono em 30 de outubro de 1955 e presbítero em 25 de fevereiro de 1956, em Roma. Em 1956 assumiu como coadjutor na Paróquia Santíssima Trindade, em Florianópolis.
 
No ano seguinte assumiu como professor no Seminário Menor Metropolitano, em Azambuja, Brusque, até 1970.

Em 1973 assumiu como professor no Instituto Teológico de Santa Catarina (ITESC), hoje Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), em Florianópolis. Em março de 1974 assumiu como capelão do Complexo Penal de Florianópolis: Penitenciária Estadual, Cadeia Pública e Hospital de Custódia.

Atividades e funções que desempenhou nestes 60 anos de padre:

– Foi coordenador regional da Pastoral Carcerária, até 2008

– Conselheiro espiritual da equipe de casais Nossa Senhora da Luz

– Assistente espiritual dominical na “Fazenda da Esperança”, em Florianópolis

– Membro do Grupo de Reflexão de Música Litúrgica, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

– Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SC

– Em 1974 – Capelão do Provincialado das Irmãs da Divina Providência, Florianópolis

– 1973 – Regente do Coral Santa Cecília da Catedral

– 1974 – Secretário Geral do ITESC

– 1979 – Conselheiro espiritual de uma equipe de Nossa Senhora

– 1987 – Redator e Revisor da revista quadrimestral do ITESC “Encontros Teológicos”

– 1999 – Diretor, redator e revisor do Jornal da Arquidiocese, Florianópolis

– 2015 – Coordenador da Pastoral Carcerária

(Fonte: ND Online)